Conferência. Astrofísico espanhol Juan Pérez Mercader defende a existência de vida no universo, para além daquela que floresceu no planeta Terra. Há milhares de milhões de mundos, além do nosso, lembra o cientista.Astrofísico espanhol defendeu em Lisboa que não estamos "sós" .Estaremos sós no universo? Como surgiu a vida na Terra, e porquê? E o que é a vida afinal? Foi com estas perguntas magnas - e difíceis - que o espanhol Juan Pérez Mercader, astrofísico e director até há pouco do Centro de Astrobiologia criado em Espanha em colaboração com a NASA, lançou ontem, em Lisboa, a conferência "A evolução do Universo e da Vida, à procura da origem da vida e da sua presença no universo", no Instituto Cervantes. .Num estilo informal, como se falasse numa roda de amigos, Pérez Mercader recorreu a imagens e a equações, esticou os braços para exemplificar a idade do universo (13 500 milhões de anos entre a ponta dos dedos da mão direita e a ponta dos dedos da esquerda) e o nascimento da vida a certa altura na Terra (a meio do braço esquerdo, há 3500 milhões de anos), leu um poema com dez séculos e fê-lo ouvir em seguida pela voz poderosa de um músico andaluz. E com tudo isto, num tom tranquilo, contou a história do universo e da vida na Terra e formulou a certeza de que não estamos sós na imensidão do cosmo. "Até este momento nunca encontrámos nenhuma forma de vida fora da Terra. Nem em nenhum outro ponto do sistema solar, nem fora dele. Mas o universo deve ter muitas formas de vida em muitos outros lugares", disse o conferencista, chamando em seu favor o trabalho científico e o conhecimento adquirido com sondas espaciais e telescópios, sobretudo nos últimos 11 anos..Uma grande dificuldade é, no entanto, definir o conceito de vida. O que é a vida? "Pois, não sabemos", disse Mercader. "Os cientistas não conseguem definir exactamente o que é a vida". Pode-se descrevê-la, fazer poemas sobre ela, e catalogá-la. Independentemente de tudo isso, há na Terra 300 milhões de espécies. "Não as conhecemos todas, não demos ainda nome a muitas delas, provavelmente não conseguiremos fazê-lo nunca". Mas essa diversidade mostra como "a vida é robusta". Brota e adapta-se às condições. Muda, sobrevive. Depois de cada um das grandes extinções em massa, como a que varreu os dinossauros do planeta há 65 milhões de anos, a vida reemergiu, mais diversa ainda. Como nasceu ela há 3500 milhões de anos é que é um mistério. O seu porquê encontra, entretanto, algumas pistas se recuarmos na história do universo. As moléculas de água (sem a qual não pode haver vida) formaram-se há 9000 milhões de anos (no sítio do ombro direito), a par dos aminoácidos (os tijolos de que a vida se serve para se estruturar). Mas o que tem este planeta de tão especial, para que tudo se tenha conjugado na direcção da vida?.A Terra formou-se há 4500 milhões de anos (ombro esquerdo), a vida surgiu mil milhões de anos depois (a meio do braço esquerdo), quando os aminoácidos se conjugaram entre si e, no interior dos oceanos, se foram complexificando em estruturas cada vez mais audazes, até formarem moléculas de RNA (material genético), que depois conseguiu confinar-se numa membrana e replicar-se. Esse foi o início, aqui..Só em 1995 a ciência conseguiu descobrir a existência de outros sistemas solares além do nosso. De então para cá, já se descobriram 250 e, com as novas tecnologias de observação, "nos últimos meses, começámos a identificar as primeiras "terras" noutras galáxias. O resto, são contas. O Sol é uma estrela vulgar. Há 10 mil milhões de estrelas por galáxia e os cientistas estimam que haja 10 mil milhões de galáxias no universo. Descobrir vida numa delas será uma questão de tempo. Preservar a que temos na Terra, é "uma obrigação".